As temperaturas caem, a umidade sobe, e com elas, aumentam também os desafios enfrentados por criadores, treinadores e proprietários de cavalos atletas no Brasil
O inverno, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do país, impõe um cenário de alerta: doenças respiratórias, rigidez muscular, lesões e queda de desempenho comprometem toda uma temporada — e geram prejuízos expressivos para haras, centros de treinamento e competidores.
De acordo com o médico-veterinário Dr. Leonardo Garbois, especialista em fisiologia e desempenho de equinos, o frio impõe um verdadeiro teste à resistência dos cavalos. “O ar gelado agride as vias respiratórias, a musculatura responde mais lentamente, e o risco de lesões aumenta sensivelmente. Um manejo desatento nesta época pode comprometer não apenas a saúde, mas toda a carreira de um animal atleta”, afirma o especialista.
O desafio térmico e seus efeitos fisiológicos
Enquanto raças rústicas de bovinos ou ovinos lidam melhor com baixas temperaturas, os cavalos — especialmente os atletas, de pelagem curta e metabolismo acelerado — enfrentam maiores dificuldades para manter a homeostase térmica. Um estudo da University of Minnesota revelou que equinos submetidos a temperaturas abaixo de zero precisam de até 25% mais energia diária apenas para manter a temperatura corporal estável.
No Brasil, cidades como Caxias do Sul (RS), Lages (SC), Curitiba (PR) e Campos do Jordão (SP) são conhecidas por registrarem mínimas abaixo de 5°C durante o inverno, segundo o INMET. Para os cavalos que vivem ou competem nessas regiões, os cuidados precisam ser redobrados.
“O gasto energético para manter a temperatura interna afeta diretamente a disponibilidade de energia para outras funções — como recuperação muscular e desempenho atlético”, explica Garbois. “É uma equação que, se mal administrada, resulta em cansaço precoce, lesões e imunidade comprometida.”
Lesões, doenças respiratórias e o impacto econômico
Entre os problemas mais recorrentes nesta estação estão as doenças respiratórias — como a Doença Obstrutiva Pulmonar Recorrente (DOPR) — e as lesões musculares e articulares decorrentes da rigidez imposta pelo frio. Cavalos confinados em ambientes pouco ventilados estão mais expostos a gases como amônia e poeira acumulada nas baias, o que agrava os quadros clínicos.
A rigidez muscular, por sua vez, exige protocolos mais longos de aquecimento e atenção redobrada às articulações. “É comum ver cavalos apresentando dificuldades no início do treino, com movimentos encurtados. Isso, em um circuito competitivo, pode ser decisivo para um mau desempenho ou até uma lesão grave”, alerta Garbois.
E os custos não são apenas fisiológicos. Um cavalo de competição acometido por uma lesão ou doença respiratória pode ficar meses fora das pistas, gerando prejuízos com tratamentos, perda de prêmios, interrupção de agendas de monta e queda no valor de mercado.
Manejo de inverno: o papel decisivo da veterinária especializada
A prevenção, segundo Garbois, está no planejamento individualizado. “O inverno exige muito mais que cobertores e abrigo. Exige nutrição ajustada, ambiente saudável, rotina física equilibrada e, principalmente, monitoramento veterinário constante”, defende.
Entre as estratégias mais eficazes, destacam-se:
- Suplementação com vitamina E, selênio, ômega-3 e antioxidantes
- Aquecimento muscular gradual antes e depois de exercícios
- Manutenção de ventilação cruzada nas baias, mesmo em dias frios
- Acompanhamento clínico periódico para detecção precoce de alterações respiratórias e musculares
“Cada animal tem uma resposta fisiológica diferente ao frio. Por isso, o acompanhamento profissional é imprescindível. Ele permite agir preventivamente e ajustar rotinas de forma precisa”, reforça o veterinário.
Longevidade e performance: os ganhos de um inverno bem conduzido
Para criadores, treinadores e proprietários que visam longevidade, produtividade e retorno sobre investimento, o inverno não deve ser visto como uma pausa, mas como um período estratégico. Um cavalo que atravessa essa estação saudável e bem condicionado chega ao restante do ano com melhor preparo físico, menos inflamações acumuladas e maior resistência imunológica.
“O cavalo é um atleta, e como qualquer atleta, ele precisa de planejamento anual. Negligenciar os meses frios é como deixar um jogador de futebol sem treino e alimentação adequada no meio da temporada”, compara Garbois.
Resumo dos principais pontos:
- Cavalos atletas exigem manejo especial no inverno para evitar doenças e perda de desempenho
- Baixas temperaturas aumentam em até 25% as necessidades calóricas dos equinos (University of Minnesota)
- Regiões do Sul e Sudeste do Brasil apresentam risco elevado de impacto fisiológico no período (INMET)
- Lesões musculares, problemas respiratórios e quedas de rendimento são comuns sem manejo adequado
- Dr. Leonardo Garbois destaca a importância do acompanhamento veterinário e da personalização dos cuidados

Fontes:
- Dr. Leonardo Garbois – Médico veterinário especialista em cavalos
- University of Minnesota – College of Veterinary Medicine
- American Association of Equine Practitioners (AAEP)
- Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)

Gilberto Vieira de Sousa é Jornalista (MTB 0079103/SP), Técnico em Sistemas de TV Digital, Fotografo Amador, Radioamador, idealizador e administrador dos sites GibaNet.com e cotajuridica.com.br, Redator no Programa Lira em Pauta, Editor da Revista Konect Brazil e do site Assessoria Animal